quinta-feira, março 08, 2012
TIA ALICE
Ontem recebi a notícia que a minha Tia Alice partiu para a eternidade (não me apetece escrever a outra palavra). Hoje é dia da Mulher, não é uma celebração que me anime. Não acho bem que ainda seja necessário este dia para lembrar a importância que a Mulher tem na sociedade. É sectário e lamentável que se chegue ao Século XXI ainda com estas parvoíces machistas. A prova disto é exactamente a minha Tia Alice, que foi uma grande Mulher.
A minha Tia Alice foi a verdadeira Leiteira, sim tinha uma leitaria. Lembro-me perfeitamento do aroma doce de leite que ela emanava. Toda a vida ela cheirou a leite, mas a vida foi muito azeda com ela. Era uma resistente, uma lutadora desde cedo se habituou que ser Mulher é difícil, mas é melhor que ser Homem. Criou os filhos sozinha, porque o marido partiu um dia e não voltou. Nunca soubemos bem porquê. Ela continuou, porque tinha de continuar, envolvida numa família de província portuguesa, daquelas à antiga; Irmãos, Irmãs, Sobrinhas, Sobrinhos...
A minha Tia Alice era irmã da minha Avó paterna. A porta da casa dela é ao lado da porta da minha Avó. Viveram toda a vida juntas e as duas sem marido, porque o meu Avô desapareceu muito cedo, levou-o a tuberculose e deixou a minha Avó viúva. Tiveram muitas alegrias e muitos desgostos, talvez mais desgostos que alegrias. Lembro-me sempre da minha Tia Alice no Natal, tinha uma grande mesa cheia de doces, fritos, licores e um sorriso tímido mas acolhedor. Também me lembro da minha Tia Alice a sofrer, quando a minha prima se foi cedo demais, e o meu primo que viveu atormentado, foi ter com a irmã passados uns anos. Sim a minha Tia Alice sobreviveu a dois netos que partiram assim estranhamente. E lembro-me da minha Tia Alice no dia em que a minha Avó deixou de querer viver. Senti que ela não entendeu como é que a irmã mais nova, a deixava assim sozinha. Mas a minha Tia Alice sobreviveu, foi agora aos noventa anos ter com a minha Avó que de certeza estava a precisar muito dela.
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